quinta-feira, 3 de junho de 2010

Arte, beleza e esperança

"A capacidade com a qual os administradores públicos manipulam os interesses da cultura (e por cultura entenda-se desde o sentido imediato da sobrevivência até o mais alto nível das conquistas tecnológicas e estéticas) é algo que nos deixa profundamente perplexos e abismados.
Modestos artesãos que trabalham embaixo de pontes são agredidos como delinqüentes; sem-teto, cujas crianças definham doentes e famintas, sem possibilidade de proteção; favelados que insinuam-se em calçadas de grandes avenidas onde a sobrevivência tem a vida e sua morte como aposta; fáceis soluções desprezadas em benefício da presumida ordem e conseqüente progresso... poderíamos acumular pilhas e pilhas de inúteis constatações totalmente desprezadas, inúteis reclamações acumuladas com o lixo de uma das cidades mais sujas do mundo, e tudo continuaria como antes - sem solução.
A arte é a mais alta expressão da vida; a arte é conseqüência da própria vida que é interpretada pelo homem em suas manifestações mais profundas e belas.
A mãe favelada amamenta uma jovem criança criando um momento de poesia irrepetível.
A arquitetura malabarística das favelas desafia engenhosamente a linguagem do equilíbrio arquitetônico provocando trágicas catástrofes lavadas pelas enchentes.
Não consigo pensar na arte desconectada da vida que a produz; a arte não é conseqüência de tecnologia nem de propaganda eleitoral; a arte sempre será o resultado do desejo do belo aliado à esperança.
Nós, os artistas, combatemos a escuridão à qual os burocratas nos querem condenar. Pois nosso produto - a arte - é um reencontro com a vida que quer combater esta secular barbárie.”

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" A gente não quer só comida. A gente quer comida, diversão e arte" Arnaldo Antunes / Marcelo Fromer / Sérgio Britto

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